19.outubro
*Por João Pieroni Ozelim – Diretor de Arte da 4Buzz
Você já parou para pensar qual o motivo de algumas peças visuais nos agradarem mais do que outras? Sabia que é possível montar uma composição visual totalmente consciente do efeito que estamos causando em quem recebe a mensagem?
É claro que é possível chegar ao resultado desejado de forma aleatória, mas não é a forma mais eficiente. É preciso entender como as pessoas podem compreender o que você quer passar. Uma forma é a Gestalt.
A Gestalt, também conhecida como “a psicologia da forma” foi uma escola de psicologia experimental que surgiu por volta do século XIX e se firmou quando esses três caras: Max Werthimer, Wolfgang Kohler e Kurt Koffa resolveram testar e fazer alguns experimentos, contribuindo com estudos da percepção, linguagem, memória, inteligência e dinâmicas de grupos sociais.
A Teoria da Gestalt busca sugerir uma resposta ao porquê de determinadas formas agradarem mais que outras.
Em resumo, a ideia é entender que o nosso cérebro não interpreta as coisas como as visualizamos. O cérebro não enxerga pontos isolados, mas sim o todo.
Não parece, mas na imagem acima:
a: As linhas retas são do mesmo tamanho.
b: Todas as linhas são paralelas
c e d: a círculo central de ambas é exatamente do mesmo tamanho.
Entende como costumamos relacionar e não isolar?
Para facilitar o entendimento de como o cérebro humano percebe as imagens, foram determinadas algumas “leis” que servem como uma espécie de guia da leitura visual, permitindo uma articulação interpretativa da forma do objeto. Suas aplicações em algumas etapas da criação podem evitar composições com mensagens desconexas.
As leis foram divididas em 8 princípios e elas podem coexistir em uma única forma ou composição.
Nada mais é que o objeto único, que se encerra em si mesmo. Ele pode ser representado pela falta de agrupamento e relações (figura 1), como também pode estar presente dentro de imagens contendo diversos elementos (figura 2).
Imagem do livro Gestalt do Objeto, de João Gomes:
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Segregação:
Esse princípio seria a capacidade perceptiva de separar, identificar, evidenciar ou destacar unidades em um todo. O cérebro, ao ver uma imagem com várias unidades, precisa segregar essas unidades, entendê-las unicamente, para depois compreender a composição total.
Nesta imagem abaixo, feita pelo artista holandês Maurits Cornelis Escher, só conseguimos entender o todo se pararmos para olhar cada unidade. O personagem sobe ou desce as escadas?
“Harmonia e equilíbrio são que elementos trazem para uma composição, formando um todo reconhecível.”
Na lei da unificação, mesmo uma imagem abstrata pode ser entendida pela mente humana, pois preenchemos os espaços vazios instintivamente, como no logo do Johnnie Walker ou da WWF (um homem caminhando e um urso panda).
No fechamento, conseguimos forçar o cérebro a preencher lacunas de imagens que possuem vazios. É possível agrupar elementos de maneira a fazer nossa mente construir uma figura total, mais fechada ou mais completa.
Essa técnica é frequentemente associada a artes feitas com estêncil e também está intimamente associada ao campo dos logos. Nesse exemplo abaixo, nosso olho enxerga uma seta no espaço vazio entre o E e o X.
A Gestalt qualifica este princípio utilizando o adjetivo de boa continuidade ou boa continuação. Objetos circulares, esféricos e suas variações elípticas definem-se como tendo uma boa continuidade, pois não há uma interrupção ou desvio de um percurso.
Já aqueles elementos que fazem o olho enxergar um caminho além do que está sendo mostrado, são considerados boa continuação. Uma vez que o olho começa a seguir algo, ele continuará viajando naquela direção até encontrar outro objeto.
Elementos próximos uns dos outros tendem a serem vistos juntos, constituindo um todo ou unidades dentro de um todo.
Esse princípio pode ocorrer de forma mais precisa quando há proximidades entre forma, cor, tamanho, textura, brilho, peso, direção e localização. É interessante perceber aqui que o princípio de proximidade e semelhança andam praticamente juntos.
Na imagem abaixo, a figura do lado esquerdo é vista como um único bloco, enquanto a do lado direito possui três colunas. A quantidade de pontos é a mesma, porém ao criamos uma proximidade de espaço entre elas, passamos essa sensação de divisão.
A lei da semelhança dita que objetos similares se agruparão entre si. Na imagem abaixo, a maioria das pessoas vê colunas de quadrados e colunas de círculos. Poucas pessoas vão associar isto como “uma linha horizontal na qual quadrados e círculos se intercalam”.
Pregnância é a qualificação da organização visual da forma de um objeto. Uma imagem com alto índice de pregnância apresenta o máximo de harmonia, unificação e o mínimo de complicação visual na organização de suas partes ou unidades compositivas. Quanto mais simples for a imagem, mais facilmente ela será assimilada.
A Gestalt está nas artes, nos objetos, nos meios digitais (redes sociais e sites) e em toda informação visual que recebemos.
Este post é apenas um resumo e tem como objetivo despertar o interesse pelo assunto e gerar uma compreensão diferente das formas e do design. Se você se interessou e deseja ampliar seus conhecimentos, existe uma infinidade de conteúdo e bibliografia sobre Gestalt.
https://www.creativebloq.com/graphic-design/gestalt-theory-10134960
Livros
Referências:
Livro “Gestalt do Objeto – Sistema de Leitura Visual da Forma” do João Gomes Filho e mais alguns achados pela internet.